
Era uma vez um jovem operário que, como muitos de nós, buscava seu lugar ao sol. Ele não sonhava com fama ou fortuna, mas queria reconhecimento, uma oportunidade justa, um espaço onde sua dedicação fizesse diferença. Desde cedo, teve a sorte de encontrar um mentor — um velho técnico experiente que lhe ensinou valores profundos e atemporais. Entre eles, o mais marcante: "Fale menos, faça mais. Seja constante, seja útil. E nunca pare de aprender."
Com essas palavras gravadas no coração, o jovem cresceu dentro da fábrica. Dominou todas as operações, aprendeu cada detalhe, tornou-se a pessoa que todos buscavam quando algo dava errado. Mas ele fazia isso em silêncio, sem alarde, sem exigir méritos, apenas confiando que um dia, seu esforço seria reconhecido. No entanto, esse dia parecia nunca chegar. Ele assistia, com certa frustração, colegas menos preparados subirem de cargo enquanto ele permanecia no mesmo lugar.
Cansado e confuso, resolveu visitar seu antigo mentor. Com o coração apertado, desabafou: “Fiz tudo o que o senhor me ensinou. Trabalhei duro, fui discreto, estudei e dominei tudo o que era possível. Por que não sou reconhecido?” O mentor o escutou com atenção e, após um silêncio reflexivo, fez uma sugestão inusitada: “Tire um dia de folga. Por qualquer motivo. Apenas faça isso.”
Sem entender bem, mas confiando na sabedoria daquele que sempre lhe guiara, o jovem assim fez. No dia seguinte ao seu retorno, foi surpreendido com uma promoção. O gerente, visivelmente impressionado, disse que a ausência do rapaz escancarou sua importância. Os problemas se acumularam, e ninguém conseguiu resolvê-los como ele fazia. Sua falta, finalmente, fez com que seu valor fosse notado.
Grato, o jovem compreendeu a lição: às vezes, é necessário “desaparecer” para ser visto. E, por um tempo, essa estratégia funcionou. Sempre que sentia-se subvalorizado, tirava um dia de folga. E, curiosamente, as coisas melhoravam. Sua presença era sentida pela ausência.
Mas como tudo que é repetido em excesso, a tática virou hábito. Um dia, ao retornar de mais uma ausência estratégica, foi barrado na entrada da fábrica. Estava demitido. Sem aviso, sem conversa, sem chance de reverter. Atordoado, buscou novamente seu mentor, pedindo respostas.
O velho o encarou com pesar. “Você aprendeu só metade da lição. Sim, é verdade que ninguém nota uma lâmpada acesa o tempo todo. Mas uma lâmpada que vive se apagando logo é substituída. As pessoas precisam confiar na luz. Precisam ter a certeza de que, quando precisarem, ela estará lá para iluminar.”
Foi nesse momento que o jovem compreendeu o erro: confundiu ser notado com ser insubstituível. Usou a ausência como ferramenta de afirmação, mas esqueceu do equilíbrio. Abandonou a constância, a previsibilidade, a confiança. Tornou-se instável. E, no mundo real, quem não é confiável, cedo ou tarde, é deixado para trás.
Essa história nos ensina algo essencial: o verdadeiro valor não está apenas em brilhar forte, mas em brilhar sempre. Ser notado é importante, mas ser confiável é indispensável. A confiança se constrói no dia a dia, na entrega silenciosa, no comprometimento que não exige aplausos. Não basta saber seu próprio valor — é preciso que os outros possam contar com ele.
Vivemos em tempos em que a visibilidade é superestimada. Achamos que só é válido aquilo que aparece, que viraliza, que é comentado. Mas a verdadeira força mora na constância, na ética, no trabalho bem-feito, mesmo que ninguém esteja olhando. E, às vezes, justamente quando ninguém está olhando, é quando mais devemos dar o nosso melhor.
Equilíbrio é a chave. Nem sempre calado, nem sempre em evidência. Nem ausente demais, nem disponível a ponto de ser subestimado. Saber a hora de aparecer, a hora de se recolher. E, acima de tudo, ser alguém em quem os outros possam confiar — mesmo quando você não está por perto.
Essa é a verdadeira luz que não se apaga.
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